
Guamaré vive, mais uma vez, um de seus ciclos de instabilidade política, reacendendo dúvidas, reavaliando lideranças e expondo fraturas dentro de um grupo familiar historicamente reconhecido como herdeiro político de João Pedro, um dos nomes mais emblemáticos da história recente do município.
No centro dessa turbulência Márcio, irmão de Mozaniel, figura que há 20 anos sustenta o discurso da resistência e da perseverança. Mas o tempo, implacável, passa a cobrar resultados. Entre derrotas recorrentes, cresce o questionamento popular: até que ponto o discurso de “resistência” se manteve como força política real, e quando passou a se transformar em obstáculo?
O Legado de João Pedro e a Semente da Divergência
Durante décadas, João Pedro ocupou no imaginário de Guamaré o mesmo espaço que hoje se atribui a Hélio Willamy, ou seja, o líder de hoje foi o de ontem. Antes de partir, deixou dois herdeiros na política: Mozaniel e Gustavo, ambos tidos inicialmente como sucessores naturais de sua bandeira e ideais.
Contudo, com o passar dos anos, as alianças, as decisões internas e o silêncio diante de episódios-chave acabaram criando um distanciamento entre essas sementes políticas e o legado original.
O resultado: uma sucessão de episódios que fragmentaram o grupo e expuseram contradições.
CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS
ATO 1 – A Oportunidade Perdida
Quando disputou contra Arthur Teixeira — então visto como nome sem experiência política, Mozaniel teve aquela que muitos consideravam sua grande chance de romper o sistema vigente.
Mas, ao abrir mão da cabeça da chapa e entregar a liderança a Gustavo, a estratégia resultou em uma das maiores derrotas eleitorais já registradas no município.
ATO 2 – O Apoio Surpreendente
Dias depois da derrota, Gustavo declarou apoio a Hélio.
O gesto, feito sem anúncio público de rompimento com Mozaniel, gerou estranhamento entre aliados e abriu espaço para especulações políticas, inclusive sobre supostos favorecimentos dentro da prefeitura, envolvendo familiares.
ATO 3 – A Eleição que Dividiu a Família
A eleição de 2024 consolidou a cisão.
Maciclécia — irmã de Mozaniel — lançou candidatura ao lado de Hélio, afirmando: “Agora é um só povo.”
Mozaniel não se posicionou publicamente. Para muitos, o silêncio foi interpretado como desistência moral ou falta de explicação ao eleitorado que o seguiu por duas décadas.
ATO 4 – O Voto de Márcio na Eleição da Câmara
No pleito interno para presidência da Câmara, Márcio, outro herdeiro político de João Pedro, afirmou ter se confundido ao votar em Eudes Miranda, contrariando acordo previamente assumido com a oposição, que apoiava Edinor.
O episódio acendeu sinal de alerta.
ATO 5 – O Silêncio Omissivo
Durante o mandato, Márcio raramente utilizou a tribuna.
Segundo aliados, sua atuação era marcada por inexpressividade e dependência política de Mozaniel, que comparecia às sessões e assumia papel de porta-voz informal do irmão.
ATO 6 – A Eleição da Mesa Diretora Anulada
Quando a Justiça anulou a eleição anterior, a articulação deveria partir da oposição.
Mesmo assim, Mozaniel teria movimentado a candidatura de Márcio para a mesa, levantando questionamentos sobre com quais forças políticas, afinal, ele estaria dialogando.
ATO 7 – Aproximação com o Presidente Eudes
Fotos circulando nas redes sociais mostraram encontros amistosos entre Márcio, Mozaniel e o presidente da Câmara, Eudes Miranda.
Para parte da população, o gesto pareceu contraditório com o discurso de perseguição política enfrentada por quem declarou apoio a Mozaniel em eleições anteriores.
ATO 8 – O Compromisso Rompido
Os vereadores Diego, Edinor, Helder e Márcio haviam acordado em obstruir sessões como forma de protesto pela demissão de 70 servidores da Câmara.
Mas, inesperadamente, Márcio compareceu e garantiu quórum para aprovação de matérias de interesse do prefeito Hélio.
Para opositores, a quebra de compromisso representou alinhamento ao governo.
ATO 9 – Mensagens Enigmáticas
Um blog local publicou texto sugerindo a existência de uma “oposição dentro da oposição”.
Após a sessão, Mozaniel publicou em sua rede social termos como “verdade, caráter, legado, máscaras” — alimentando especulações sobre rachas internos e traições políticas.
ATO 10 – O Aplauso do Governo
A postura de Márcio em plenário rendeu elogios massivos da base governista, ofuscando inclusive o conteúdo das matérias votadas.
No entanto, para parte da população, o foco deveria permanecer na defesa dos trabalhadores demitidos, pauta inicial da oposição.
AS PERGUNTAS QUE ECODEIAM NAS RUAS
Segundo apuração do blog, as conversas de bastidores e depoimentos de populares têm levantado uma série de dúvidas, que se tornaram quase um refrão político em Guamaré:
Por que Márcio votou em Eudes Miranda na eleição da Câmara?
Por que Márcio discordou da indicação de Helder Oliveira feita pela oposição?
Por que não acompanhou os demais vereadores no trancamento da pauta em defesa dos demitidos?
Como Mozaniel avalia a atuação política da irmã, hoje vice-prefeita?
Por que Mozaniel nunca apresentou denúncias formais ao Ministério Público, mesmo criticando publicamente o governo?
O que pensa Márcio sobre o áudio atribuído a Mozaniel, no qual ele afirma que “o povo de Guamaré não está preparado” e que “não abriria mão de seu emprego pela política”?
Qual a avaliação sobre as repetidas derrotas de Mozaniel ao longo de duas décadas?
O que tem falhado? A estratégia? O discurso? Ou a coerência?
O QUE ESPERA O POVO?
Guamaré, como qualquer município em transformação, parece cobrar menos discursos e mais explicações.
As ruas pedem clareza.
Pedem coerência.
Pedem compromisso, especialmente daqueles que carregam o peso de um legado histórico.
Entre silêncios, votos inesperados, alianças enigmáticas e derrotas acumuladas, fica a sensação de que o passado ainda orienta o presente, mas já não é suficiente para garantir o futuro.
E o povo, o que acha disso tudo?

1 comentário em “CRISE DE LIDERANÇA E CONTRADIÇÕES: 20 ANOS DE RESISTÊNCIA COLOCAM MARCIO E MOZANIEL, HERDEIROS DE JOÃO PEDRO NO CENTRO DO DEBATE POLÍTICO EM GUAMARÉ”
O silêncio, quando parte de uma figura pública, nunca é neutro.
Ele escolhe lado.
Quem ocupa mandato não tem o direito de se esconder atrás da conveniência, nem de tratar o povo como plateia muda. Fiscalizar, cobrar, denunciar e explicar não são favores — são deveres.
E quando essas obrigações são ignoradas, o silêncio passa a falar mais alto do que qualquer discurso bonito ou publicação vazia.
A soberba, a vaidade e o ego de não ouvir o clamor das ruas revelam uma postura ainda mais grave: a conivência.
Conivente não é apenas quem apoia abertamente, mas quem se omite, quem relativiza injustiças e quem escolhe preservar espaços pessoais em vez de defender o interesse coletivo.
Em Guamaré, o jogo político sempre foi marcado por dependências mútuas. Hélio e Mozaniel, ao longo dos anos, alimentaram-se um do outro, mantendo um ciclo onde nenhum permitiu que o outro fosse verdadeiramente superado.
Nesse processo, impediram que novas lideranças crescessem e, pior, foram incapazes de conduzir, com autonomia e coragem, próprio legado.
Legado não se herda apenas pelo sobrenome.
Legado se honra com coerência, coragem e compromisso com o povo.
E quando isso falta, o silêncio deixa de ser estratégia e passa a ser confissão.