
Guamaré, uma cidade que ostenta mensalmente arrecadações milionárias, a realidade tem sido uma crônica de descasos públicos e promessas que não saem do papel. A última prova é a paralisação da obra do novo Cemitério e Centro de Velório Público, interrompida há mais de 60 dias por falta de pagamento da própria Prefeitura.
O cenário é emblemático: a placa da obra, tomada pela ferrugem e já caída, simboliza não apenas o desrespeito aos prazos contratuais, mas também a degradação do zelo público. Acreditem se quiser… A obra além de está paralisada, ainda foi aditivada para mais 90 dias sem uma nova previsão de entrega. O mês de outubro está terminando e novembro chegando. Nada foi entregue, e o que há no local são escombros e silêncio.
A empresa WB Empreendimentos, vencedora da licitação, terceirizou os serviços e foi forçada a paralisar os trabalhos diante da inadimplência do poder público municipal. Segundo o Portal da Transparência, o último pagamento foi em 24 de julho de 2025, no valor de R$ 97.339,68. Desde então, mais nada foi repassado. Do valor global do contrato, que após “ajustes” saltou de R$ 1.588.512,15 para R$ 1.916.894,40, a prefeitura pagou apenas R$ 354.151,97. Nem mesmo os recursos provenientes de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, que já estão disponíveis e são vinculados à obra, foram usados como deveriam.

Como explicar isso? A queda de arrecadação? Não. A culpa do Governo Federal? Também não. O dinheiro está lá. O projeto tem recurso carimbado. Mas o que falta mesmo é gestão e respeito com o dinheiro público.
E não para por aí. A obra sofreu um apostilamento contratual, um tipo de ajuste formal que, por definição, não pode alterar valores do contrato. No entanto, misteriosamente, o contrato teve sim seu valor alterado em mais de R$ 328 mil. Um acréscimo considerável que não encontra, até agora, justificativa técnica plausível aos olhos da população, nem mesmo no Portal da Transparência:

A construção do novo cemitério, localizada na marginal da RN-401, entre a sede do município e a comunidade de Baixa do Meio, levanta outra discussão: o isolamento do equipamento público. Distante da zona urbana, dificulta o acesso da população mais carente, que terá que arcar com os custos de deslocamento, ou enfrentar longas caminhadas em momentos de dor e luto. Mais uma vez, falta sensibilidade, sobra improviso.
A obra, que deveria abrigar aproximadamente 2.050 jazigos com 3 gavetas cada, centro de velório, área administrativa e estacionamento, virou símbolo de uma administração que não consegue enterrar nem seus próprios erros, quanto mais enterrar os mortos com dignidade.
É lamentável observar que, numa cidade onde não faltam recursos, falta tudo o mais: planejamento, responsabilidade, transparência e compromisso com o bem público. Se nem um cemitério essencial e simbólico, consegue ser entregue com o mínimo de respeito, o que esperar da saúde, educação ou infraestrutura?
A obra do novo cemitério em Guamaré está parada, e com ela, vai sendo enterrada, pouco a pouco, a esperança de uma gestão minimamente competente. Em uma cidade que nada em arrecadação milionária, a desculpa da “falta de recursos” é, no mínimo, um insulto à inteligência do cidadão.
Pagamentos travados, contrato inchado, aditivo, apostilamento, e nada de entrega. Mas o que se entrega, com constância, é o desprezo pela população. Nem mesmo com dinheiro em caixa e um empréstimo carimbado, se consegue terminar uma obra que, ironicamente, deveria servir para enterrar os mortos com dignidade.
Guamaré merece mais. A população, viva ou morta, também.




