
Enquanto a saúde pública do Brasil enfrenta inúmeros desafios, a situação em Guamaré ultrapassa todos os limites do razoável e beira o colapso total. Profissionais da enfermagem (técnicos e enfermeiros) denunciam uma realidade alarmante: estão há 4 (quatro) meses sem receber salários, trabalhando sob extrema pressão, sem amparo, e sendo forçados a escolher entre cumprir seu dever profissional ou garantir o próprio sustento.
O silêncio da gestão municipal e da Câmara de Vereadores é ensurdecedor diante do clamor dos que, mesmo sem condições mínimas de dignidade, continuam salvando vidas todos os dias. A cidade, que deveria valorizar e proteger seus servidores, mostra um retrato cruel de abandono institucional, desrespeito profissional e desprezo pela saúde pública.
Dívidas, fome e desespero
Relatos feitos pelos próprios profissionais revelam uma rotina de sofrimento e privação. Há quem já não tenha o que comer em casa. Dívidas se acumulam, contas vencem e, ainda assim, a ordem é continuar trabalhando, mesmo sem receber. Um enfermeiro, sob anonimato, fez um desabafo que resume o sentimento geral da categoria:
“Estamos indo trabalhar à força, com nossas contas todas atrasadas e sem direito nem de comprar comida. Enquanto isso, o prefeito resolveu destinar recursos para bancar a chamada ‘festa do bebê’.”
A frase não é apenas uma denúncia, é um grito. Um grito de quem carrega nos ombros o peso da responsabilidade de cuidar da população, mas que não encontra respaldo de quem deveria zelar pelo bom funcionamento dos serviços públicos.
Abusos dentro do hospital
Além do atraso salarial, os profissionais também relatam abuso e invasão de privacidade dentro do Hospital Manoel Lucas de Miranda. Segundo denúncias, câmeras de segurança teriam sido instaladas até mesmo em áreas sensíveis, em uma clara violação à intimidade e aos direitos das trabalhadoras.
O hospital, que deveria ser um espaço de acolhimento e segurança para pacientes e profissionais, torna-se, assim, palco de constrangimentos e violações. As denúncias são graves e merecem atenção urgente por parte do Ministério Público e das entidades fiscalizadoras.
Câmara omissa, prefeitura muda
O que mais revolta os profissionais é o silêncio cúmplice da Câmara de Vereadores, que, mesmo ciente das denúncias, tem se recusado a debater ou intervir de forma efetiva. A ausência de uma resposta por parte da Prefeitura de Guamaré e da Secretaria Municipal de Saúde apenas reforça o cenário de descaso.
A omissão das autoridades locais configura uma falha institucional grave. É inadmissível que servidores públicos, em plena atividade, fiquem sem salário durante meses, enquanto o executivo municipal promove eventos festivos com recursos que deveriam estar destinados à saúde e ao pagamento de pessoal.
Onde estão os órgãos de controle?
É preciso perguntar: onde está o SindSaúde? Onde está o Ministério Público do Trabalho? Onde está o Ministério Público Estadual? Diante de tantas denúncias, a atuação desses órgãos se faz urgente. A classe trabalhadora da saúde não pode continuar sendo invisibilizada e humilhada.
Enquanto a população sofre com um sistema de saúde público ineficiente, os profissionais que haveriam de sustenta-lo são tratados com desdém. O pagamento dos salários em dia não é um favor, é uma obrigação legal e moral do poder público.
Um apelo por justiça
É necessário que os responsáveis por esse cenário sejam responsabilizados. A crise na saúde de Guamaré não pode mais ser tratada como um problema isolado ou pontual. Trata-se de uma crise humanitária, que exige respostas rápidas e firmes.
O prefeito precisa sair do silêncio e prestar contas à população. Os vereadores precisam cumprir seu papel fiscalizador. E os órgãos de controle devem agir com a urgência que a situação exige.
Enquanto isso, os profissionais seguem resistindo. Trabalhando sem salário. Alimentando seus filhos com fé e indignação. Mas até quando?
